"A cada minuto, um estudante negro perde a chance de ser
médico, engenheiro, escritor, arquiteto, cientista.
Segundo dados da SAEB, alunos indígenas e negros
no Ensino Médio têm, em média, um desempenho 40%
inferior ao de outros alunos"
O Mapa Preto da Educação é uma iniciativa voltada para mapear a situação educacional da população negra no Brasil.
O projeto coleta e analisa dados com o objetivo de oferecer uma visão detalhada dos desafios enfrentados por alunos negros em todo o país,
levando em consideração variáveis como gênero, segmento de ensino e tipo de escola.
Seu principal propósito é subsidiar políticas públicas que melhorem os indicadores educacionais, promovam a igualdade e
equidade no sistema de ensino e contribuam para a inclusão racial.
Além disso, o Mapa Preto da Educação visa orientar professores e gestores escolares na adoção de práticas pedagógicas mais inclusivas e eficazes.
Para este projeto, utilizamos os dados do SAEB entre 2013 e 2021. No entanto, reconhecemos algumas limitações importantes ao lidar com dados de raça/cor.
Primeiro, um percentual significativo de estudantes não declara sua raça/cor, o que pode impactar a precisão da análise das disparidades educacionais.
Além disso, esses dados são baseados na autodeclaração, o que pode gerar inconsistências devido à subjetividade na percepção racial, especialmente entre alunos
do 5º ano do Ensino Fundamental. Outro ponto crítico é a exclusão de escolas muito pequenas do processo de avaliação, o que limita a representatividade de
comunidades indígenas e quilombolas.
Apesar dessas limitações, o SAEB permanece a única fonte disponível com segmentação racial na educação nacional. A falta de atenção detalhada a questões raciais
no sistema educacional brasileiro é evidente e precisa ser enfrentada. O Mapa Preto da Educação é uma ferramenta de advocacy que reforça a importância desses
dados e destaca a urgência de abordar essa questão de maneira mais sistemática e rigorosa.
Para o Mapa Preto da Educação, utilizamos os microdados do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) dos anos de 2013, 2015, 2017, 2019 e 2021.
O SAEB é a única fonte no contexto educacional brasileiro que permite uma análise racializada do desempenho dos alunos, pois inclui a autodeclaração racial, possibilitando a diferenciação das notas com base em raça.
No entanto, essa classificação depende da autodeclaração dos próprios alunos, o que pode introduzir inconsistências, especialmente no 5º ano do Ensino Fundamental, onde a pouca idade dos alunos pode gerar confusão quanto à sua identificação racial.
Essa dificuldade de categorização é notável na Prova Brasil, em que cerca de 30% dos alunos não declaram sua raça, refletindo os desafios inerentes à autodeclaração em um país com complexidades raciais tão profundas como o Brasil.
Embora a autodeclaração apresente limitações, o SAEB permanece a única ferramenta disponível que permite capturar as disparidades raciais no desempenho educacional em todo o país, justificando sua escolha para esta análise.
As disparidades raciais que emergem nos resultados do SAEB são indicativas de problemas estruturais mais amplos, que afetam diretamente o acesso e a qualidade da educação para diferentes grupos raciais.
A análise é organizada por três segmentos educacionais — 5º ano, 9º ano e Ensino Médio — e cobre as edições de 2013, 2015, 2017, 2019 e 2021.
É importante destacar que 2021 foi um ano atípico, marcado pela pandemia de COVID-19, durante a qual muitas escolas funcionaram em modelos híbridos, combinando ensino presencial e remoto. Esse cenário indiscutivelmente impactou o desempenho dos alunos, introduzindo um novo conjunto de desafios que vão desde o acesso desigual às tecnologias até a dificuldade
em manter uma rotina de aprendizado estável. Mesmo assim, 2021 é o ano mais recente com microdados disponíveis para análise racializada, sendo crucial para entender os efeitos da pandemia e como ela amplificou as desigualdades já existentes.
Apesar das limitações na coleta de dados e no processo de autodeclaração, o SAEB é uma ferramenta valiosa para explorar as desigualdades raciais no sistema educacional brasileiro. Os dados revelam disparidades significativas que refletem barreiras
estruturais e históricas, como a falta de recursos em escolas que atendem predominantemente alunos negros, indígenas e pardos. Essas disparidades indicam a necessidade urgente de políticas públicas que promovam equidade racial e inclusão, visando melhorar a infraestrutura escolar, a capacitação docente e a formulação de estratégias pedagógicas que sejam sensíveis às questões raciais. Para isso, é fundamental que o uso de dados racializados continue a ser aprimorado, permitindo que as desigualdades educacionais sejam enfrentadas de maneira precisa e eficaz.